sábado, 22 de agosto de 2009

Etnobiopirataria [biotech andean II]


Os Estados e as empresas, por exemplo, do complexo químico-farmacêutico, com sede no hemisfério hegemônico do planeta, buscam sistematicamente controlar os recursos energéticos, de água e energia, em contraposição a outro pólo de países, com amplas áreas cobertas por diversidade biológica e cultural, como na África, Ásia e América Latina. Nessa estratégia, salta aos olhos do Norte toda a região tropical, faixa intertropical, a mais rica em biodiversidade da Terra, enquanto as grandes corporações do ramo biotecnológico localizam-se nos EUA, Europa do Norte e Japão. Situação geopolítica que abre, pois perspectivas novas para as populações das regiões de grande diversidade biocultural, como os países da Amazônia Andina [Peru, Equador, Colômbia e Venezuela, além dos amazônicos Brasil e Suriname, inclusive o Chile]. A Bacia Amazônica pode estar se tornado um ‘latifúndio genético’, nas palavras de Carlos Walter Porto-Gonçalves em seu livro “A Globalização da Natureza e a Natureza da Globalização”, mas apenas se considerarmos os diversos interesses que incorrem sobre os recursos estratégicos ali existentes: urânio, níquel, zinco, cobre, ouro e principalmente os recursos genéticos, além do cobiçado petróleo.

Não há porque não considerar os conflitos gerados pela sobreposição de falsos interesses, instigados por uma prática comum de conservação, proliferado por discursos que se utilizam de algumas imagens conceituais relativas às áreas protegidas [parques ecológicos, reservas, unidades ambientais, etc.], cercadas, que acabam impactando e limitando os direitos nacionais e territoriais de se impor sobre elas, desde tempos remotos. Certamente, os EUA visam controlar a biodiversidade em escala mundial, com o programa estratégico designado ‘International Cooperative Biodiversity Group’ [ICBG], realizado por três delineamentos essenciais: [a] Conservação da Natureza; [b] Desenvolvimento Econômico; [c] Descobrimento de Drogas Medicinais.

Os procedimentos das pesquisas no ICBG, aliando universidades e empresas, envolvem a coleta de informações e a obtenção de extratos naturais junto às comunidades locais [camponeses, quilombolas, indígenas, pescadores e ribeirinhas]. Além disso, enviam essas informações colhidas para laboratórios nos EUA, até que se identifiquem os princípios ativos desses extratos. Por fim, busca-se obter as patentes e a proteção para comercialização. Percebe-se o caráter etnológico dessas pesquisas, nessa prática de (etno)biopirataria em proveito dos EUA, que se justifica, [1] na medida em que essas populações são desapropriadas do conhecimento habitual que possuem, [2] por não terem o registro escrito de suas ‘fórmulas’ e receitas, [3] onde a captura do saber sobre a biodiversidade, por parte dos laboratórios norte-americanos, apodera-se de em um conhecido coletivo, não individualizável, dificultando o reconhecimento dos direitos de propriedade aos nativos.

Será que poderosas transnacionais [Ptizer+Pharmacia, Glaxo Smith Kline, Merck & Co.] ainda buscam desarmar os sistemas autônomos de saúde dessas comunidades locais, amazônicas, em especial, e os tornam dependentes dos produtos farmacêuticos industrializados? Acrescente-se às práticas de etnobiopirataria na Amazônia Andina, as relações econômicas baseadas na importação norte-americana de petróleo, em todo caso, obtendo como contrapartida a repressão ao narcotráfico. De que modo a exploração de recursos naturais nos Andes, pela indústria farmacêutica e, principalmente, pela indústria petroquímica, tornou-se o suporte de uma geoeconomia tóxica articulada a uma geopolítica terrorista de fato?

Nenhum comentário:

Postar um comentário